Por muito tempo fiz da vida um conto de fadas. E das companhias, ou das possíveis companhias, um complemento da alma. Tolinha que eu fui, ou era, afinal, não há gente grande (ou até pequena) que preencha um espaço que é seu. Intransferível e personalíssimo, incapaz de ser colo alheio quando sequer está em paz.
Por muito tempo fiz do amor um resgate. Uma colaboração para algo. Um remendo da alma. E ainda que ele tenha lá as suas maravilhosas funções nas nossas vidas, seres humanos tão falhos e carentes, a verdade é que o amor não salva. Ele até cura, mas não liberta. Ele até nos melhora, mas não nos trata totalmente. O amor serve para que a gente resgate o que já está dentro de cada um de nós, e é no melindre das alternativas que encontra, que ele pode dar certo ou não.
Por muito tempo, farei do amor, a partir de agora, aconchego. Caminho. Descoberta. (Re) descoberta. Pontilhado de reticências independentes. O amor, ele não pode custar a nossa paz. Ele pode, e deve, fazer parte dela. Tocar em frente de mãos dadas. Só se ama alguém, em sua verdadeira essência, quando se é capaz de amar a si próprio, com outrem ou não. Por muito tempo, ousei fingir não perceber…