“Bandeira branca, amor, não posso mais. Pela saudade que me invade eu peço paz”. Quando Max Nunes e Laércio Alves fizeram ecoar, em 1969, nos antigos bailes carnavalescos e pelas ruas, os versos desta que é uma das mais belas antigas marchinhas de Carnaval não imaginavam que, na distante Itabuna, no Sul da Bahia, seduziriam e fizessem apaixonar-se pela Folia de Momo um ilustre itabunense. Estamos falando de um dos mais tradicionais foliões de terras grapiúnas, Nilton Ramos (o Nilton Jega Preta), que neste ano de 2019 será homenageado pela Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania (Ficc) durante a 40ª Lavagem do Beco do Fuxico, que acontece neste sábado, 23 de fevereiro.
Hoje com 84 anos, viúvo, pai de quatro filhos, oito netos e um bisneto, Nilton Ramos conta com a mais pura lucidez fatos e as pessoas que marcaram há 50 anos, mais precisamente no Carnaval de 1969, a fundação do Bloco Casados I…Responsáveis. A agremiação, cuja particularidade era justamente por reunir homens casados da sociedade itabunense para brincar os quatro dias de folia, surgiu a partir da articulação do grupo formado pelo próprio Nilton, Nérope Martineli, Zito Cordier, Eduardo Moreira e Osvaldo Benevides.
O Bloco, cujo lema é “Fazendo amigos brincando”, ultrapassou cinco décadas e já chegou a reunir mais de 240 integrantes, mantendo a tradição das antigas marchinhas de Carnaval, sob o toque de uma afinadíssima bateria, que é uma particularidade do Casados I…Responsáveis. Nilton Ramos lembra que na década de 80, quando o saudoso Calixto Midlej Filho era provedor da Santa Casa de Misericórdia, o bloco era convidado no domingo de Carnaval para animar os pacientes internos no então Hospital Santa Cruz.
“A alegria do bloco contagiava os doentes e funcionários que, longe do circuito do Carnaval, podiam desfrutar de momentos de descontração ao som das marchinhas”, revela. Ele também lembra que durante muitos anos, ao saírem do Hospital e antes de irem para o circuito oficial da folia, todos seguiam até o Cemitério Campo Santo para homenagear os falecidos integrantes do Bloco. “Era um momento de muita emoção”, pontua.
Nilton Ramos também destaca outras características que marcaram os 50 anos do Bloco Casados I…Responsáveis, como por exemplo, as belas fantasias inspiradas no toureiro, no malandro do samba e no pierrô criados pelo estilista itabunense professor Queiroz. “Porém, um dos fatos que fez revigorar o Bloco foi a entrada das mulheres no grupo há 10 anos”, afirma. Ele lembra ainda que nos anos 70 e 80 alguns integrantes costumavam sair às ruas usando capuz, que só eram retirados no último dia de Carnaval.
Lavagem do Beco
Incorporada à tradição do Carnaval de Itabuna há exatos 40 anos, a Lavagem do Beco do Fuxico também tem em Nilton Ramos um de seus idealizadores. O local, que na época concentrava botecos e barbearias, se tornara ponto de encontro dos apreciadores de uma boa destilada. “Ali reunidos para beber a cachacinha, fulano falava de fulano, que também falava de cicrano. Daí surgiu o chamado ‘Beco do Fuxico”, elucida Nilton Jega Preta.
“No Carnaval de 1979, o amigo Abelardo Moreira (Bel), inspirado nas lavagens que aconteciam em Salvador, lançou a ideia de promovermos a Lavagem do Beco do Fuxico. Antecedendo o início da festa, a rua e os postes eram pintados com frases sobre temas que queríamos ver banidos da sociedade”, ressalta.
Segundo Nilton Ramos, oficialmente, a Lavagem do Beco do Fuxico entrou para o calendário de abertura do Carnaval de Itabuna na década de 80. Desde o início, além do Casados I…Responsáveis, a festa conta com a participação do Bloco Maria Rosa e, ao longo do tempo, outras agremiações carnavalescas foram se agrupando, a exemplo do Mendigos de Gravata e Bloco Dez…Casados. “Esta é uma tradição que o povo de Itabuna não pode deixar morrer. As futuras gerações precisam vivenciar a Lavagem do Beco do Fuxico como um patrimônio da cultura itabunense”, finalizou.